quinta-feira, 14 de maio de 2009

NO REINO DO CHAPÉU – parte 3/4;


... Isabella Delves Broughton, nascida em Londres em 1958, foi uma mulher certa do próprio talento, embora convencida de sua feiúra e desproporção estética. Isso fomentou a paixão por adornos que cobrissem o rosto e por roupas espalhafatosas para esconder os ângulos esquisitos. Antes de virar autoridade da moda britânica, ela passou por maus bocados: fez faxinas e foi balconista. Os maus bocados que enfrentou por mais de 20 anos foram compensados em 1979, quando Issie (apelido dado por Treacy) se mudou para Nova York, onde morou com a atriz Catherine Oxenberg, filha da princesa Elizabeth da Iugoslávia e amiga pessoal da família Kennedy. Ela a apresentaria ao estilista francês Guy Laroche.
O circo estava armado: a paixão por chapéus foi colocada em pratica ao lado de Laroche, que por sua vez promoveu o primeiro encontro da londrina com a diaba-veste-Prada Anna Wintour, diretora da Vogue América, de quem virou assistente após apresentar um currículo falso. “Eu não podia perder aquela chance por não poder atestar o meu talento”, comentou anos depois. Com a agenda fervilhante na Nova York do começo dos anos 1980, Isabella conheceria artistas como Warhol e Basquiat.
Missão cumprida. Hora de voltar para a Inglaterra com pompa e circunstância. Por lá, Isabella elegia novos talentos e, bingo, eles davam certo. Foi assim com a top model Stella Tennant e com o estilista Alexander McQueen: Issie comprou a sua primeira coleção inteira por £$ 5 mil. “Ele queria me vender por £$ 350 libras o único casaco da sua primeira coleção. Eu declinei, mas não podia ficar sem aquelas peças geniais. Então comprei tudo e paguei em prestações semanais”, ironizava. A brincadeira pára por ai: sempre no vermelho, Isabella era tão desprovida de libras quanto de beleza – e só não passou fome por conta do casamento com o Marchand Detmar Blow. E da filantropia dos amigos.
Filho de uma prole tradicional, Detmar logo se viu forçado a abandonar a esposa, que, além de deprê, era estéril. Com a vida pessoal em frangalhos, Issabela Blow não conseguiu controlar os limites da profissão, mergulhando na melancolia, encomendando chapéus cada vez mais obscuros a Philip Treacy, manifestando em suas roupas a vontade de ser tragada para outra dimensão. Não se sabe ao certo quantas tentativas de suicídio ela cometeu: enfiou seu carro na traseira de um caminhão, se jogou de uma ponte, tomou tranqüilizante de cavalo, teve overdose na Índia, tentou se afogar numa lagoa. Até que, em 7 de maio de 2007, consumiu doses brutais de herbicida durante uma festa na própria casa. Avisou os amigos que ia fazer compras, saiu da sala e se trancou no banheiro.
No dia 15 de maio, o seu caixão não carregava nenhuma flor, mais sim chapéu feito para a ocasião por Philip Treacy, o maior chapeleiro da história da Inglaterra, descoberto, nutrido e imortalizado por Isabella Blow. Continua...

¬ A doidivana Isabella Blow em vários momentos de sua vida, mas nunca desprovida de seus belos, irreverentes e obscuros chapéus, todos desenvolvidos pos Philip Treacy.









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